Maria Alice Moura Soares1; João Matheus de Almeida Ravnjak2; Rosângela Ramos Veloso Silva3; Desirée Sant’Ana Haikal4; Rose Elizabeth Cabral Barbosa4; Lucineia Pinho3
DOI: 10.47626/1679-4435-2022-998
RESUMO
INTRODUÇÃO: Uma das consequências da suspensão das atividades presenciais educacionais durante a pandemia da covid-19 foi o aumento da dor nas costas.
OBJETIVOS: Avaliar o aumento da dor nas costas em professores, em atividade, na educação básica de escolas estaduais de Montes Claros, Minas Gerais.
MÉTODOS: Trata-se de inquérito epidemiológico do tipo websurvey, através de questionário on-line, para avaliação das características sociodemográficas, condições de trabalho, situação de saúde e comportamentos durante a pandemia. Foi realizada regressão de Poisson, com variância robusta.
RESULTADOS: Participaram 15.641 professores, sendo que 35,4% relataram piora da dor nas costas durante a pandemia. Houve prevalência da piora do quadro nos seguintes grupos: sexo feminino (razão de prevalência = 1,15), idade entre 40 e 49 anos (razão de prevalência = 1,14), acima de 11 anos na docência (razão de prevalência = 1,11; 1,19), jornada de trabalho superior a 21 horas (razão de prevalência = 1,05; 1,11), dificuldade no trabalho remoto (razão de prevalência = 1,16), qualidade de vida com piora (razão de prevalência = 1,30) ou não (razão de prevalência = 0,84), obesos (razão de prevalência = 1,07), tristes ou deprimidos (razão de prevalência = 1,21), ansiosos ou nervosos (razão de prevalência = 1,57), que consumiam bebidas alcóolicas (razão de prevalência = 1,16), com pior padrão alimentar (razão de prevalência = 1,07), tempo de tela aumentado (razão de prevalência = 1,24), ausência de atividades (razão de prevalência = 1,13) e adesão total ao distanciamento social (razão de prevalência = 1,08).
CONCLUSÕES: O período pandêmico trouxe um agravo na dorsalgia em professores, o que demonstra uma necessidade de atenção à questão, visando uma melhoria na qualidade de vida desses profissionais.
Palavras-chave: dor nas costas; dor musculoesquelética; exacerbação dos sintomas; transtornos traumáticos cumulativos.
ABSTRACT
INTRODUCTION: One of the consequences of halting face-to-face educational activities during the COVID-19 pandemic was worse back pain.
OBJECTIVES: To evaluate worse back pain in teachers working in elementary state schools in Montes Claros, MG.
METHODS: This is a websurvey-type epidemiological survey using an on-line questionnaire to assess sociodemographic characteristics, working conditions, health condition, and behaviors during the pandemic. Poisson regression was performed, with robust variance.
RESULTS: 15,641 teachers were included, and 35.4% reported worse back pain during the pandemic. It was found that the prevalence of a worse condition was higher among women (prevalence ratio = 1.15), between 40 and 49 years old (prevalence ratio = 1.14), teaching for more than 11 years (prevalence ratio = 1.11; 1.19), working more than 21 hours (PR = 1.05; 1.11), with difficulty to work remotely (prevalence ratio = 1.16), with poor quality of life (prevalence ratio = 1.30) or not (prevalence ratio = 0.84), obese (prevalence ratio = 1.07), sad or depressed (prevalence ratio = 1.21), anxious or nervous (prevalence ratio = 1.57), consuming alcoholic beverage (prevalence ratio = 1.16), with poor dietary habits (prevalence ratio = 1.07), more screen time (prevalence ratio = 1.24), sedentary lifestyle (prevalence ratio = 1.13), and social distancing (prevalence ratio = 1.08).
CONCLUSIONS: The pandemic worsened back pain in teachers, demonstrating a need for addressing the issue, aiming at improving the quality of life of these professionals.
Keywords: back pain; musculoskeletal pain; symptom flare up; cumulative trauma disorders.
INTRODUÇÃO
A dor crônica nas costas é uma das principais causas de afastamento do trabalho na classe trabalhadora e a condição musculoesquelética mais comum entre as queixas ambulatoriais1. Essa dor possui diferentes classificações e etiologias. Entretanto, um fator comum a todas as etiologias é a sobrecarga muscular e articular relacionada ao estresse advindo do perfil laboral de alguns trabalhadores, como, por exemplo, os professores2.
Durante a pandemia da covid-19, o isolamento social e a suspensão das atividades presenciais de educação em escolas públicas e privadas foram medidas adotadas como prevenção. Sendo assim, alunos e professores tiveram que se adaptar ao processo do ensino remoto, mudança que afetou as condições de trabalho, fazendo com que os profissionais fossem submetidos a um ambiente de trabalho inadequado, passando horas em frente às telas e com uma carga horária de trabalho aumentada3,4.
Por conta das circunstâncias encontradas, os professores se queixaram da tensão exacerbada, associada ao medo e à ansiedade causados pelo distanciamento e risco iminente de contaminação5,6. Logo, tais condições, concomitantes a uma alteração nos hábitos laborais e de lazer, fizeram com que a saúde física e mental dos professores fosse afetada. Com isso, dores musculoesqueléticas (principalmente a dor na coluna), sedentarismo e doenças crônicas, como a obesidade, estão sendo cada vez mais observadas nessa população7.
Assim, visto que a condição representa ônus ao sistema de saúde e tem grande incidência na classe trabalhadora, analisar os impactos das mudanças no estilo de trabalho entre professores, como ocorrido durante a pandemia da covid-19, é importante para elucidar as reais condições nas quais encontram-se esses profissionais. Diante disso, neste estudo, avaliaram-se os efeitos da pandemia da covid-19 no agravamento da dor nas costas entre professores, considerando as características sociodemográficas, os aspectos do trabalho docente, a situação de saúde e comportamentos durante a pandemia.
MÉTODOS
DELINEAMENTO DO ESTUDO
Este estudo faz parte da pesquisa base Projeto ProfSMoc – Etapa Minas Covid “Condições de saúde e trabalho dos professores da educação básica da rede estadual de ensino de Minas Gerais na pandemia do COVID-19”. É um inquérito epidemiológico do tipo websurvey realizado por professores e pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), com o apoio da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE-MG).
POPULAÇÃO E AMOSTRA
A população foi composta por aproximadamente 90.000 professores da rede pública estadual de Minas Gerais. A educação básica, no Brasil, inclui educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Em Minas Gerais, são seis polos regionais, divididos em 47 superintendências de ensino. Para o cálculo amostral no presente estudo, foi utilizada a fórmula considerando populações infinitas. Estimou-se a participação mínima de 2.564 professores, considerando 50% de prevalência do evento, um intervalo de confiança de 95% (IC95%), 3% de erro, def = 2 e um aumento de 20% para possíveis perdas.
Foram adotados como critérios de inclusão estar no exercício da função de docência no ano de 2020; trabalhar no âmbito da educação infantil, ensino fundamental e/ou ensino médio; possuir vínculo com a rede de escolas estaduais; e aceitar, de forma livre, participar da pesquisa. Não participaram os professores aposentados, aqueles que responderam “não” quando perguntados se aceitavam participar do estudo e os que estavam atuando em cargo diferente da função docente. Não houve qualquer restrição de participação aos afastados do trabalho por licença médica ou outro motivo.
VARIÁVEIS DE ESTUDO E COLETA DE DADOS
Utilizou-se um questionário on-line disponibilizado aos professores via plataforma Google Forms®. O link do formulário foi enviado pela SEE-MG para o e-mail institucional de todos os professores do estado. Para evitar preenchimento do formulário por sistemas robóticos, foi utilizado um reCAPTCHA com testes de imagens. A coleta de dados aconteceu entre 20 de agosto e 11 de setembro de 2020.
Este estudo foi conduzido adotando-se como variável dependente dor nas costas, que foi avaliada por meio das respostas à pergunta “Durante a pandemia, as mudanças nas suas atividades habituais afetaram a dor de coluna?”. Neste estudo, os professores foram classificados de acordo com presença (aumentou um pouco e aumentou muito) e ausência (não tenho dor de coluna, diminuiu e permaneceu igual) de dor nas costas.
As variáveis independentes foram organizadas em blocos de assunto:
Características sociodemográficas: sexo (masculino ou feminino); idade (até 39 anos, de 40 a 49 anos, ou de 50 anos ou mais); situação conjugal (afirma ou nega a presença de um companheiro); presença ou ausência de filhos; renda familiar (de um a três salários-mínimos, de quatro a seis salários-mínimos, sete salários-mínimos ou mais).
Condições de trabalho docente: tempo de trabalho como professor (até 10 anos, 11 a 20 anos, 21 anos ou mais); jornada semanal de trabalho (até 20 horas, 21 a 40 horas, 40 horas ou mais); dificuldades em relação ao trabalho docente remoto (nenhuma ou pouca, moderada ou muita).
Situação de saúde e comportamentos durante a pandemia: qualidade de vida (melhorou, não teve alterações, piorou); aumento do consumo de tabaco (não, sim); aumento do consumo de álcool (não, sim); alimentação (melhor padrão alimentar, pior padrão alimentar); aumento do tempo de tela (não, sim); obesidade (não, sim); prática de atividade física (não, sim); sente-se frequentemente triste ou deprimido (não, sim); sente-se frequentemente ansioso ou nervoso (não, sim); adesão ao distanciamento social (não ou parcialmente, totalmente).
ANÁLISE DE DADOS
As variáveis analisadas foram descritas por frequências absolutas e relativas. As prevalências dos comportamentos analisados foram estimadas pelos seus IC95%. A magnitude da associação entre as variáveis dependentes e independentes foi avaliada pela razão de prevalência (RP) bruta e ajustada, estimada mediante regressão de Poisson, com variância robusta. Inicialmente, foram realizadas análises bivariadas, e as variáveis que apresentaram nível descritivo (valor de p) ≤ 0,20 foram selecionadas para o modelo múltiplo (análise ajustada), com nível de significância de 0,05. Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa estatístico Stata, versão 13.0.
QUESTÕES ÉTICAS
A pesquisa cumpriu com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional da Saúde/Ministério da Saúde, que trata de pesquisa com seres humanos. O projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes e aprovado com parecer consubstanciado nº 4.200.389/2020.
RESULTADOS
Participaram deste estudo 15.641 professores, sendo 81,8% mulheres. A idade média foi de 43 anos (± 9,4), com tempo médio de trabalho como professor de 14,8 anos (± 9,5). Entre os participantes, 35,4% relataram piora da dor nas costas durante a pandemia. As demais características, relacionadas às variáveis sociodemográficas, ao trabalho docente e a hábitos e comportamentos durante a pandemia, estão apresentadas na Tabela 1.
Os resultados da análise bivariada entre o desfecho piora da dor nas costas durante a pandemia e as variáveis sociodemográficas, laborais, comportamentais e de saúde dos professores durante a pandemia estão apresentados na Tabela 2. As variáveis que apresentaram associação significativa ao nível de 0,20 com o desfecho piora da dor nas costas durante a pandemia foram selecionadas para análise múltipla.
No modelo múltiplo, apresentado na Tabela 3, quanto às características sociodemográficas, verificou-se que a prevalência da piora da dor nas costas entre os professores foi maior entre aqueles do sexo feminino (RP = 1,15) e na faixa etária entre 40 e 49 anos (RP = 1,14). Em relação às características do trabalho docente, observou-se que a maior prevalência da piora da dor nas costas foi verificada nos profissionais que relataram tempo de trabalho na função docente de 11 a 20 anos (RP = 1,11) e 21 anos ou mais (RP = 1,19), jornada semanal de trabalho de 21 a 40 horas (RP = 1,05) e 41 horas ou mais (RP = 1,11) e dificuldade moderada/muita em relação ao trabalho docente remoto (RP = 1,16).
Quanto à situação de saúde dos professores durante a pandemia, observou-se maior prevalência da piora da dor nas costas entre aqueles que referiram que sua qualidade de vida não teve alteração (RP = 0,84) ou piorou (RP = 1,30), classificados como obesos (RP = 1,07), que frequentemente se sentiam tristes ou deprimidos (RP = 1,21) e ansiosos ou nervosos (RP = 1,57). No que tange aos comportamentos e hábitos de vida, observou-se associação entre aqueles com maior consumo de bebidas alcóolicas (RP = 1,16), pior padrão alimentar (RP = 1,07), aumento do tempo de tela (RP = 1,24), ausência de atividades físicas (RP = 1,13) e adesão total ao distanciamento social (RP = 1,08).
DISCUSSÃO
Este estudo demonstrou que uma parcela dos professores da rede estadual de ensino de Minas Gerais apresentou aumento expressivo da dor nas costas no período pandêmico, desfecho que teve associação com fatores psíquicos, sociodemográficos e estilo de vida.
Um estudo conduzido na Eslováquia, com 782 professores que estavam trabalhando de casa durante o período pandêmico, relatou 74% de dores cervicais, 67% de dores lombares e 60% de dores em qualquer outra região da coluna. Entre os principais fatores associados a essas dores, estavam o estresse, a falta de atividade física e o ambiente inadequado para realizar o trabalho2. Dados prévios, publicados com a mesma população do presente estudo, demonstraram que 58% dos professores relataram aumento da dor nas costas devido a mudanças advindas do período pandêmico, sendo que a dor nas costas possuía como fatores de risco o sexo feminino, a jornada de trabalho aumentada, os aspectos psíquicos e o estilo de vida8.
No presente estudo, foi observada maior prevalência de piora da dor nas costas entre as mulheres. Esse resultado já era esperado, pois as mulheres representavam mais de 81% da população avaliada. Além disso, segundo a literatura, a dor nas costas possui maior prevalência entre o sexo feminino, o que é explicado com embasamento em questões hormonais, reprodutivas e de composição corporal inerentes ao sexo feminino9. Há, ainda, autores que, ao avaliarem os efeitos do estresse no estilo de vida de mulheres durante a pandemia de covid-19, associaram um risco maior àquelas na condição de sobrecarga de trabalho doméstico e aos cuidados com a casa10.
Verificou-se que, em relação à faixa etária, a idade elevada está entre os fatores associados à piora da dor nas costas. O envelhecimento gera alterações nos discos vertebrais, deteriorando-os, provocando tais dores e reduzindo a capacidade laboral e de movimentação do ser humano11. Em estudo realizado no Chile, com professores no período pré-pandemia e durante a pandemia, observou-se que aqueles com idade acima de 45 anos relataram maior comprometimento da realização de funções físicas do corpo do que os professores que estavam abaixo dessa faixa etária, fator que indiretamente reforça os achados do nosso estudo12.
Em consonância com os dados encontrados em estudo prévio, a piora na qualidade de vida foi associada, pelos respondentes, à piora da dor nas costas. Em outro estudo também realizado com professores no período pandêmico, observou-se piora na qualidade de vida em diversas faixas etárias. Entretanto, naqueles com idade acima de 45 anos, a piora foi associada predominantemente a limitações relacionadas a funções físicas12.
O estado de saúde pode ser altamente influenciável pelos hábitos alimentares, e, no presente estudo, a investigação demonstrou que uma alimentação não saudável proporcionou, em certa magnitude, uma piora da dor nas costas entre os professores na pandemia. Em relação ao período em questão e ao desfecho analisado, a alimentação da população, de uma forma global, foi perceptivelmente modificada, levando ao maior consumo de alimentos hipercalóricos, industrializados e com uma porcentagem maior de gorduras, o que faz com que ocorram modificações prejudiciais no estado mental e físico do indivíduo13.
O aumento do tempo de tela é maléfico em diversos aspectos aos seres humanos. A equação em que o tempo de tela crescente indica maior tempo em postura inadequada e maior tempo sem se movimentar colabora para o aumento do padrão sedentário e, consequentemente, também para a piora das dores, como evidenciado no presente trabalho. Em estudo realizado na Índia, com 629 trabalhadores da rede educacional na condição de trabalho remoto, 60,8% relataram dores ou desconforto musculoesquelético e 71% destes atribuíram os incômodos diretamente ao processo de trabalho remoto, associado ao maior tempo de tela14.
Verificou-se que, em relação às atividades físicas, a diminuição da realização dessa prática colaborou para a piora da dor nas costas. Dessa forma, observou-se que, durante o período pandêmico, a diminuição desse hábito se converteu em uma piora global da qualidade de vida, impulsionada também por outras variáveis analisadas, como a piora do padrão alimentar e o aumento do tempo de tela7,13,15, que são resultados dos impactos relacionados ao sedentarismo crescente no período em função das medidas de proteção adotadas.
Em uma pesquisa feita no Chile, com professores no período pré-pandemia e durante a pandemia, observou-se uma piora na capacidade de manutenção de saúde mental efetiva dos professores, sendo o trabalho remoto o fator principal, impactando a saúde psicossocial e provocando o esgotamento físico, devido à exaustão e ao estresse entre os funcionários12. Esse panorama pode ter contribuído para o aumento das dores nas costas nessa população. Segundo estudos prévios que investigaram os fatores de riscos para dor nas costas, com ênfase nas questões psicológicas, as psicopatologias possuem uma forte influência na capacidade de percepção e de identificação da dor, o que corrobora uma distorção, muitas vezes maléfica, de uma dor que pode não ser compatível com a amplitude patológica do processo de algesia16-18.
No presente estudo, o consumo de álcool revelou-se positivamente associado a dor nas costas. Entretanto, apesar disso, a associação de consumo de álcool com dor crônica nas costas, em estudos prévios, é fraca e inconsistente, fazendo com que a relação seja apenas intensificada em casos de pessoas dependentes de álcool19.
A obesidade também foi encontrada como fator de risco para dor nas costas; no entanto, essa associação é contraditória20. Um estudo prévio que defende a associação afirma que a obesidade aumenta a carga mecânica da coluna, provocando maior compreensão nas estruturas da coluna lombar durante as atividades do dia a dia e ocasionando a dor. Além disso, outra justificativa encontrada é que a obesidade pode ocasionar inflamação crônica sistêmica, pois, nessa condição, ocorre o aumento de citocinas e de reagentes de fase aguda e a ativação de vias pró-inflamatórias, levando, assim, à dor21.
A exposição prolongada à atividade de docente foi outro fator de risco encontrado. Em estudos prévios, foi constatado que, antes do período pandêmico, os professores já eram submetidos a condições de trabalho precarizadas e com diversas exigências que favoreciam o aumento da dor nas costas22. Na pandemia, com a transição dos professores para a educação on-line, estudos demonstraram que ocorreu aumento na intensidade e na duração da dor nas costas e das limitações relacionadas, pois o trabalho remoto agravou a precarização do trabalho docente e modificou negativamente a situação do trabalho23.
A modificação da característica de trabalho docente também impactou o ritmo e a qualidade do ensino na educação mundial24. Os resultados demonstraram que houve uma dificuldade significativa dos professores em relação ao trabalho remoto, demonstrando que fatores como a dificuldade logística de alguns estudantes e professores, exemplificados pela estrutura remota dos serviços utilizados para dar as aulas, também influenciou o desfecho analisado, resultando na distorção da eficácia do processo de construção do conhecimento nesse período5. Tal dificuldade é refletida no aumento do estresse físico e mental desses professores, o que, como já é de conhecimento, promove piora na percepção da dor e, consequentemente, piora da dor nas costas25.
O distanciamento social também foi encontrado como fator de risco para a dor nas costas. Segundo estudo feito com professores universitários de Minas Gerais, Brasil, por conta do estresse, da ansiedade e de outras situações vivenciadas, os docentes tiveram a saúde mental e o estilo de vida afetados. Sendo assim, as mudanças levaram a uma piora na qualidade de vida, o que pode corroborar, por exemplo, o agravamento da dor nas costas26.
É relevante considerar algumas possíveis limitações deste estudo transversal, que possui a capacidade de proporcionar somente uma visão instantânea da exposição e do efeito estudado. Sendo assim, os dados da exposição e do desfecho são obtidos apenas momentaneamente, não sendo permitida a avaliação temporal entre a causa e o efeito.
Uma vez que o processo de estudo e de trabalho por métodos digitais possui uma projeção de crescimento para os próximos anos, tais resultados alertam sobre a necessidade urgente da criação de estratégias para a promoção de saúde desses trabalhadores. A importância, portanto, do presente estudo é elucidada pelo fato de categorizar quais os impactos que, a longo prazo, serão amplificados com a progressão da nova cultura digital caso não sejam abordados de forma correta. São impactos físicos e psicológicos que agridem, de forma global, a saúde dos trabalhadores, principalmente professores, levando à redução da capacidade de trabalho, saúde, lazer e, assim, acarretando maior incidência de adoecimento.
CONCLUSÕES
Os achados do estudo indicam que o período pandêmico trouxe um aumento da dor crônica nas costas entre os professores da rede estadual de Minas Gerais. Sendo assim, faz-se necessária uma atenção a esses profissionais, reforçando a imprescindibilidade da prática de exercícios físicos, a melhora no padrão alimentar, a diminuição no tempo de exposição a telas e o acompanhamento psicológico, com um profissional da área. Além disso, percebe-se uma necessidade de criação de redes colaborativas, que ajudem os professores com o suporte técnico necessário para a adaptação ao trabalho remoto.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos professores do estado de Minas Gerais pela participação no Projeto ProfSMoc - Etapa Minas Covid, ao apoio da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), aos programas de Iniciação Científica Voluntária (ICV) do Centro Universitário Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros e da Unimontes e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela concessão de bolsas.
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Contribuições dos autores: MAMS e JMAR participaram da análise formal dos dados, da redação – esboço original e da redação – revisão & edição. RRVS e DSH participaram da concepção do estudo, da investigação, do tratamento e da análise formal dos dados e da redação – revisão & edição. RECB e LP participaram da concepção do estudo, da investigação, do tratamento e da análise formal dos dados, da redação – esboço original e da redação – revisão & edição. Todos os autores aprovaram a versão final submetida e assumem responsabilidade pública por todos os aspectos do trabalho.
Recebido em
3 de Setembro de 2022.
Aceito em
5 de Maio de 2022.
Fonte de financiamento: Nenhum
Conflitos de interesse: Nenhum