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Acesso aberto Revisado por Pares
EDITORIAL

Tempos incertos e consequências sérias para a saúde

Uncertain times and serious health consequences

Frida Marina Fischer1; Vera Lúcia Zaher-Rutherford2

DOI: 10.5327/Z1679-44352017v15n2ED

No curso dos últimos meses fomos surpreendidos com as propostas de reformas na área trabalhista e previdenciária. Muitas vozes se levantaram contrárias a essas modificações. Embora haja defensores das reformas e estes nos lembrem com insistência de que é absolutamente necessário realizá-las, seja por questões de sustentabilidade financeira, seja por exigências de o Brasil estar cada vez mais inserido num mercado internacional extremamente competitivo, aqueles que são contrários às reformas apresentam evidências que, há décadas, têm sido amplamente divulgadas e publicadas em periódicos, livros, relatórios técnicos, em reuniões científicas etc.

No que pesem as controvérsias que envolvem essas discussões, é importante salientar que, entre as muitas modificações propostas, pelo menos algumas delas terão fortes repercussões negativas na saúde dos trabalhadores, com elevados custos financeiros e sociais. Um dos exemplos mais gritantes da falta de bom senso é o que diz respeito à possível flexibilização na duração da pausa para alimentação, de 60 para 30 minutos1; outro é o que dispõe sobre a idade mínima mais avançada e o aumento do tempo de contribuição para a aposentadoria integral2. Embora esses exemplos pareçam ser completamente distintos, em ambos os casos estaremos vivenciando em futuro não muito distante um incremento nas doenças relacionadas ao trabalho e a acidentes de trabalho. O usual ritmo intenso e as exigências do trabalho requerem várias pausas ao longo da jornada, não apenas para a refeição, mas outras que permitam aos trabalhadores descansarem física e mentalmente. Ainda em função de más condições de trabalho e de vida, nas quais estão mergulhados milhões de trabalhadores, estes não alcançarão o disposto na reforma da previdência, caso esta seja aprovada nos termos atuais. Terão sido afastados antes da nova idade da aposentadoria, pelo que se identifica como envelhecimento funcional precoce3.

Neste número da Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, vários artigos apresentam temas que tocam em questões associadas à saúde no trabalho, que é o principal objetivo deste periódico. São apresentadas diferentes categorias profissionais, tais como servidores públicos, profissionais da saúde, profissionais de fundações socioeducativas, caixas de supermercado, entre outros. Também estão entre os artigos publicados neste número temas sobre (más) condições de trabalho associadas a agravos à saúde do sistema musculoesquelético e sistema nervoso central. A gestão organizacional, o absenteísmo e o estresse ocupacional também são alguns dos assuntos presentes neste número.

Deverão ser sempre a prevenção dos agravos e a promoção da saúde dos trabalhadores o norte das ações em que nossos representantes no governo, assim como os gestores dos programas de saúde no trabalho, precisam concentrar seus esforços. Dessa forma, um dia no futuro poderemos vislumbrar um cenário que nos proteja, a cada um de nós, trabalhadores, no sentido de alcançarmos uma sociedade com mais equidade, justiça e saúde.

 

REFERÊNCIAS

1. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 6.787 [Internet]. 2016. [cited 2017 May 26]. Available from: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=7E134710A0FDE3169728C0717F52A647.proposicoesWebExterno1?codteor= 1550864&filename=REDACAO+FINAL+-+PL+6787/2016

2. Câmara dos Deputados. Proposta de Emenda à Constituição n.º 287 [Internet]. 2016 [cited 2017 May 26]. Available from: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=C6A3EBC0C3A5DA3CFB7B28C8CF23DB31.proposicoesWeb1?codteor=1514975&filename=PEC+287/2016

3. Ilmarinen J. Ageing and the quality of worklife in the European Union. Helsinki: Finnish Institute of Occupational Health; 2005 [cited 2017 May 26]. Available from: http://www.sopol.at/document/download/towards-a-longer-worklife


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