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ARTIGO ORIGINAL

Avaliação do perfil sociodemográfico, laboral e a qualidade de vida dos agentes de saúde responsáveis pelo combate à dengue em duas cidades do estado do Paraná

Sociodemographic and occupational profile and quality of life of health agents responsible for combating dengue in two towns in Parana, Brazil

Renato Nisihara; Juliana Cukier Santos; Giulia Moraes Kluster; Gabriella Favero; Amanda Bencke Silva; Lorayne Souza

DOI: 10.5327/Z1679443520180248

RESUMO

INTRODUÇÃO: Os agentes comunitários de saúde (ACS) e os agentes de combate a endemias (ACE) estão envolvidos de maneira decisiva na prevenção e no combate à dengue, sendo os profissionais de saúde diretamente em contato com a população.
OBJETIVO: Investigar o perfil sociodemográfico, as atividades e a qualidade de vida (QV) dos ACS e ACE em duas cidades do Paraná, uma endêmica (Paranavaí) e outra em surto epidêmico (Paranaguá).
MÉTODO: Estudo transversal avaliando ACS e ACE nos aspectos sociodemográficos, laborais e a QV entre julho e agosto de 2016.
RESULTADOS: Foram incluídos 98 ACS, 40 em Paranaguá e 58 em Paranavaí, dos quais 92,9% são mulheres, com idade média de 38,9 anos; 63,5% têm ensino médio completo; e 90% recebem menos de 3 salários mínimos mensais. Os agentes de Paranaguá se sentem mais preparados para o desempenho da função, embora a maioria não ache tal treinamento suficiente. A maioria já foi agredida verbalmente no trabalho. Os mais insatisfeitos se encontram em Paranavaí. A análise da QV demonstrou que a saúde física/mental não é boa e pode ser influenciada por fatores sociodemográficos e esgotamento profissional.
CONCLUSÕES: A maioria dos ACS e ACE é composta de mulheres, adultos jovens, com boa escolaridade e baixa renda. O atual treinamento para combate à dengue não é suficiente, pois os agentes se sentem inseguros para a transmissão de informações à população. Além disso, parte dos profissionais já foi agredida no desempenho da função. A QV está abaixo do esperado, o que é justificado principalmente pela carga de trabalho e pela baixa remuneração.

Palavras-chave: dengue; qualidade de vida; agentes comunitários de saúde; pessoal de saúde.

ABSTRACT

BACKGROUND: Community health agents (CHA) and endemics combat agents (ECA) play a decisive role in the prevention and control of dengue and are in direct contact with the population.
OBJECTIVE: To analyze the sociodemographic profile, activities and quality of life (QoL) of CHAs and ECAs in two towns in Parana, Brazil, in which dengue is respectively endemic (Paranavai) and epidemic (Paranagua).
METHOD: Cross-sectional study which analyzed sociodemographic and occupational parameters and the QoL of CHAs and ECAs in July and August 2016.
RESULTS: Ninety-eight health agents were included, 40 from Paranagua and 58 from Paranavai. About 92.9% of the participants were female; their average age was 38.9 years old; 63.5% had completed secondary school; and 90% earned less than 3 times the equivalent of the minimum wage per month. The agents in Paranagua reported to feel they were better prepared for their job, although most considered training insufficient. Most participants reported to have already suffered verbal violence at work. Job dissatisfaction was higher among the Paranavai agents. QoL analysis showed that neither mental nor physical health was good, which might be explained by sociodemographic factors and professional exhaustion.
CONCLUSION: Most participants were female, younger adults, with high educational level and low income. The training currently provided to combat dengue is insufficient, as most health agents felt insecure to convey information to the population. A part of the sample had already suffered violence at work. QoL was below the expected level, mainly due to work overload and low salary.

Keywords: dengue; quality of life; community health workers; health personnel.

INTRODUÇÃO

De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, somente entre janeiro de 2017 e fevereiro de 2018 foram registrados 283.872 casos prováveis de dengue no território nacional, totalizando uma incidência de 22,8 casos a cada 100 mil habitantes, em 2017, e 15,5 casos a cada 100 mil habitantes em 2018. O estado do Paraná, nas primeiras sete semanas de 2018, totalizou incidência de 16,8 casos/100 mil habitantes1. Esses dados caracterizam a dengue, em nível nacional e regional, como uma doença de natureza epidêmica, necessitando de atenção no que tange a políticas públicas para o seu combate1,2. Mesmo com todos os esforços, o Ministério da Saúde registrou 1.500.535 casos prováveis da doença no Brasil em 2016, sendo 67.305 deles no Paraná. A cidade de Paranaguá se localiza no litoral paranaense, próximo à capital do estado. A epidemia nessa cidade começou em janeiro de 2016, apresentando incidência de 13,11 casos a cada 100 mil habitantes e, devido ao surto, foram contratados alguns agentes de combate a endemias (ACE) para enfrentar a crise. A cidade de Paranavaí, localizada no interior do estado, a 506 quilômetros de Curitiba, é um município endêmico da doença. Nessa cidade, os responsáveis pelo controle da dengue são os próprios agentes comunitários de saúde (ACS). Durante o ano de 2016, Paranavaí apresentou uma taxa de incidência de 1,55 casos/100 mil habitantes, sendo que o último surto ocorreu no início de 20133.

Desde que a dengue se tornou uma epidemia e um problema de saúde pública no Brasil, os ACS estão envolvidos de maneira decisiva em sua prevenção e combate. Embora a profissão tenha tido início nos anos 1980, apenas em 1991 a carreira foi oficialmente implantada no país. De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica4, cabe ao ACS trabalhar com a adscrição de famílias na sua base geográfica, cadastrar, orientar, visitar no domicílio e desenvolver atividades de promoção da saúde. O ACS desempenha papel crucial no acolhimento, pois é o membro da equipe de saúde que faz parte da comunidade, aumentando a confiança da população nesses profissionais5,6.

Na questão específica da dengue, é função dos ACS implementar ações para interromper o ciclo do mosquito transmissor, disseminar informações para a comunidade e ajudar no planejamento de ações para combater a doença6. Outros profissionais que atuam no combate à dengue são os ACEs, os quais tiveram suas atividades regulamentadas em 2006 pela Lei nº 11.3507. Esses agentes são responsáveis por vistoriar estabelecimentos, aplicar larvicidas e inseticidas e dar orientações quanto à prevenção e ao tratamento das doenças infecciosas. Os ACEs devem trabalhar de forma integrada com as equipes de atenção básica na Estratégia Saúde da Família (ESF)5,6.

É indiscutível a importância do trabalho desses agentes de saúde no combate à dengue, no entanto são escassos os estudos que pesquisaram as condições de trabalho ou o perfil dos ACS e ACEs que atuam em nosso país. A presente investigação teve o objetivo de avaliar o perfil dos agentes responsáveis pelo combate à dengue, sua qualidade de vida (QV) e as percepções sobre o seu conhecimento da doença. Adicionalmente, realizou-se a comparação desses pontos entre uma cidade endêmica e uma cidade epidêmica em casos de dengue no estado do Paraná.

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal analítico, submetido e aprovado pela Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Positivo (CEP-UP) sob CAAE nº 55508916.0.0000.0093, no ano de 2016.

Dos 98 agentes que concordaram em participar do estudo por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) — e que estavam no desempenho da função há pelo menos seis meses —, 40 ACEs pertenciam à cidade de Paranaguá e 58 ACS a Paranavaí, no período de julho a agosto de 2016.

Todos os 98 indivíduos incluídos no estudo responderam a dois questionários. O primeiro foi elaborado pela equipe de pesquisa e avaliou o perfil sociodemográfico e as atividades relacionadas ao trabalho dos agentes, sendo composto de 20 perguntas que abordaram questões acerca de sexo, idade, escolaridade, renda, tempo de serviço, conhecimento sobre a doença, treinamento para a função e satisfação com o trabalho. O segundo questionário aplicado foi o 12-Item Short-Form Health Survey (SF-12), desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para avaliar a QV, sendo traduzido e validado no Brasil desde 20048. Esse questionário avalia oito dimensões — função física, aspecto físico, dor, saúde, vitalidade, função social, aspecto emocional e saúde mental — que influenciam a QV e considera a percepção do indivíduo em relação aos aspectos de sua saúde nas últimas quatro semanas9,10. As respostas são graduadas e dois escores são calculados: o físico (Physical Component Summary — PCS) e o mental (Mental Component Summary — MCS). A pontuação de cada escore varia de zero a cem e, quanto maior o resultado, melhor a QV11,12.

Os dados coletados foram planilhados com auxílio do programa Excel (Microsoft, EUA). A normalidade dos dados foi aferida com o teste de Kolmorov-Smirnof. Para comparar variáveis dicotômicas foram utilizados os testes do χ2 e exato de Fisher. Variáveis contínuas foram analisadas com teste de Mann-Whitney ou teste t, conforme apropriado, com auxílio do programa GraphPad Prism 5.0 (La Jolla, Califórnia, EUA). Valores inferiores a p<0,05 foram considerados significativos.

 

RESULTADOS

As características sociodemográficas da população estudada encontram-se descritas na Tabela 1.

 

 

Observa-se que a maioria dos agentes de saúde (92,9%) é composta por mulheres. Em relação à idade, a maioria se encontra na faixa de adulto jovem (entre 20 e 49 anos), com idade média de 38,9±4,22 anos. Chama a atenção a boa escolaridade dos agentes de saúde, dado que 64,3% deles apresentam ensino médio completo e 34,4% estão cursando ou têm nível superior. Por outro lado, a renda pode ser considerada baixa, uma vez que 90% deles recebem menos de 3 salários mínimos por mês.

Na Tabela 2, podem-se visualizar as principais respostas no questionário realizado.

 

 

Quando se perguntou há quanto tempo trabalham como agentes de saúde, em Paranaguá observou-se que 16/40 (40%) deles estavam contratados há 1–2 anos e 24/40 (60%) há mais de 2 anos, resultado similar ao observado em Paranavaí (31 e 69%, respectivamente; p=0,34). De maneira geral, os agentes de Paranaguá se sentem mais treinados e preparados para o desempenho da função, provavelmente por causa do recente treinamento recebido. No entanto, a maioria deles não considera o treinamento suficiente. Preocupa também o fato de um expressivo número de agentes (45,9%) relatar ter sido agredido verbalmente, principalmente em Paranaguá (62,5%). Cerca de 30% dos agentes de saúde em ambas as cidades tiveram dengue. Os agentes de Paranavaí se demonstraram mais insatisfeitos (média de 5,76 pontos em uma graduação de satisfação de 0 a 10, comparada à média de 7,02 pontos dos agentes de Paranaguá; p=0,026) e se consideraram significativamente menos preparados para o desempenho da função (p<0,0001) que os colegas de Paranaguá. Por outro lado, em Paranavaí os agentes de saúde acham que seu trabalho é significativamente mais bem aceito pela população (p=0,046).

Os agentes de saúde também sugeriram outras formas de ação contra a dengue, entre elas: melhoria da coleta e destinação do lixo, apoio de guardas municipais e instâncias superiores às campanhas de prevenção, maior participação da população, melhor treinamento dos agentes e até mesmo punições mais severas para aqueles que não previnem a proliferação do mosquito em suas casas.

Em relação à QV avaliada pelo SF-12, oito questionários foram desconsiderados por falha no preenchimento dos dados. Dos 90 questionários válidos, 35 são referentes aos agentes de Paranaguá e 55 aos de Paranavaí. Os dados avaliados encontramse dispostos na Tabela 3. Não se observou diferença significativa em nenhuma comparação entre as duas cidades. Cabe ressaltar que, numa escala que varia de 0 a 100 pontos — na qual, quanto maior o valor encontrado, melhor a QV do respondente —, os valores, em média, tanto para a saúde mental quanto para a saúde física, são medianos (em torno de 50 pontos).

 

 

O valor p não foi significativo para nenhuma das comparações efetuadas.

Em relação à sua percepção sobre a própria saúde, metade dos participantes a classificou como "boa" e 71,9% alegaram não sentir dificuldades em realizar atividades moderadas do dia a dia, como varrer a casa, mover uma mesa de lugar, jogar bola ou subir vários lances de escada. Mais de 80% afirmaram não ter deixado de realizar tarefas diárias ou do trabalho nas quatro semanas anteriores ao questionário por conta de limitações físicas ou problemas emocionais. A presença de dor, no entanto, interferiu nas atividades para 53% dos agentes.

Em relação à autopercepção sobre seu estado mental, apenas 2 (2,2%) agentes relataram não se sentir calmos ou tranquilos em nenhum momento. Nenhum dos agentes alegou se sentir constantemente sem energia. Por outro lado, 51,5% deles relataram se sentir desanimados e abatidos e 34% afirmaram que seus problemas físicos ou emocionais interferiram nas atividades sociais, como visitar amigos e parentes.

 

DISCUSSÃO

Os frequentes casos de emergência e reemergência das doenças infecciosas em geral, especialmente a dengue, cursam com a negligência das autoridades científicas e sanitárias, entre muitos outros fatores. Podem-se apontar determinantes demográficos, sociais e políticos, econômicos e ambientais — e os dependentes do desempenho dos serviços de saúde são interligados e necessitam ser adequados para o bom controle dessas doenças13. Os agentes de saúde, principalmente pela sua proximidade da população, têm papel crucial nesse contexto. O presente estudo apresenta dados sobre o perfil sociodemográfico dos ACS e ACEs que trabalham nas cidades de Paranavaí (endêmica) e Paranaguá (em surto epidêmico) e visou demonstrar suas dificuldades no desempenho da função. Os principais achados estão relacionados à insegurança para transmitir informações sobre as doenças e à baixa remuneração. Em relação à sua QV, a pesquisa mostrou que a maioria deles está desanimada e abatida.

O perfil sociodemográfico da população deste estudo se mostrou semelhante aos de pesquisas feitas com agentes de saúde em outros locais do país, como Guarapuava (PR)14 e São Paulo (SP)15. Nos quesitos "sexo", "faixa etária" e "renda", observouse, assim como no presente estudo, o predomínio de mulheres, adultos jovens e baixa remuneração. Em relação à escolaridade, na nossa casuística há maior número de agentes que possuem ou estão cursando nível superior, diferentemente dos dados obtidos nos outros estudos, que apontam a maioria dos agentes de saúde com ensino fundamental ou médio completos15-17. Tal discordância pode estar relacionada à diferença cronológica dos estudos. Nos últimos anos observou-se maior facilidade de acesso ao ensino superior, o que pode justificar o aumento no nível de escolaridade. Adicionalmente, alguns municípios passaram a exigir ensino médio completo nos concursos de ACS e ACE. Cabe ressaltar que segue tramitando no Plenário do Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 6437/2016, que altera a Lei nº 11.350/2006, ampliando as atribuições e exigindo ensino médio completo para os ACS de todos os municípios do Brasil18.

O predomínio de mulheres na função de agentes de saúde pode estar associado à preferência da população, pois o agente feminino gera um sentimento de afinidade com as donas de casa, além de transmitir a ideia de maior segurança e melhor aptidão aos cuidados da casa e da saúde em geral19,20.

Na comparação entre as duas cidades estudadas, os agentes de saúde que estão mais insatisfeitos e se sentem significativamente menos preparados se encontram em Paranavaí. Há um viés de comparação nesse caso, pois os agentes de Paranaguá receberam treinamento recentemente para a função, dado que a epidemia ocorreu em 2016, enquanto em Paranavaí o último surto da doença ocorreu em 20135. De forma preocupante, na cidade de Paranavaí a minoria dos agentes respondeu se sentir preparada para a função, ao contrário do que ocorre em Paranaguá. No entanto, observa-se uma contradição, pois, embora se diga preparada, a maioria deles acha o treinamento insuficiente e respondeu não ter bom conhecimento sobre os outros dois vírus transmitidos pelo mesmo mosquito — zika e chikungunya. Tal constatação preocupa, uma vez que os agentes de saúde são responsáveis por difundir informações sobre doenças, estando muito próximos à população, principalmente àquela mais vulnerável. É provável que essa sensação de insegurança para transmitir informações seja diminuída por meio de treinamentos com adequada periodicidade. Adicionalmente, a emergência de outras viroses no Brasil, como zika, chikungunya e febre amarela, torna necessário que sejam realizadas constantes atualizações para que esses profissionais se sintam mais capacitados e valorizados na sua função.

No presente estudo observou-se, em ambas as cidades, que muitos agentes já foram agredidos durante o trabalho, principalmente de forma verbal. Tal achado foi maior em Paranaguá, que estava em surto epidêmico e necessitava de uma ação mais incisiva dos ACEs. Já foi relatado que a prática de agressão ao agente de saúde influencia negativamente em sua capacidade de atuação na comunidade16. Chiaravalloti et al.16 descreveram dificuldades na atuação dos ACS no programa da dengue, seja pela recusa da visita ao domicílio, seja por questões sociais mais amplas, como falta de saneamento, alto índice de violência e impossibilidade de acesso a alguns imóveis. Estudo realizado em Santa Maria (RS)15 relatou que, além da violência, os agentes de saúde estão expostos a outros fatores de risco e agravo, como exposição à umidade, fumaça, sol e lixo. É provável que o conjunto desses fatores interfira diretamente na saúde do trabalhador e no seu desempenho laboral. Adicionalmente, chama a atenção o fato de quase 30% dos agentes estudados na presente investigação já terem tido dengue.

A análise da QV por meio dos escores obtidos pelo questionário SF-12 mostrou baixas pontuações nos parâmetros mental e físico nas cidades estudadas, demonstrando que a autopercepção do estado de saúde dos agentes entrevistados não é satisfatória. Almeida & Pais-Ribeiro19 descreveram a percepção do estado de saúde de profissionais do ensino e da área de saúde em Portugal utilizando o mesmo questionário, demonstrando nesses indivíduos escores superiores à média encontrada em nosso estudo (escore mental=68,7 pontos; escore físico=75,9 pontos), sem diferença significativa entre as duas classes estudadas. Estudo realizado com os ACS de Guarapuava14 também avaliou a QV por meio do questionário World Health Organization Quality of Life Instrument (WHOQOL-BREF), da OMS, e mostrou que a autopercepção da saúde de 60,9% dos entrevistados foi classificada como boa, apresentando escores maiores do que o encontrado neste estudo. É conhecido que fatores sociodemográficos como idade, sexo e nível de escolaridade e renda podem afetar a QV19. Além desses, somam-se fatores relacionados ao esgotamento profissional, como falta de tempo e sobrecarga de trabalho, conflitos entre a equipe ou com a população e falta de suporte social e de autonomia na tomada de decisões21-23. O esgotamento profissional pode levar à insatisfação com o trabalho e gerar cansaço físico e psíquico que influencia de maneira decisiva na saúde mental21. O prejuízo na saúde mental piora a QV do indivíduo e interfere no serviço por ele prestado. Todos esses aspectos podem ser observados nas respostas obtidas em nosso questionário, corroborando a análise de que a QV dos ACS não está adequada. Cabe ressaltar que Trindade et al.15 descreveram alta prevalência de transtornos mentais comuns (43,3%)edasíndrome do esgotamento profissional (25%) nos agentes de saúde, com valores maiores que os encontrados em outros profissionais da área, como médicos oncologistas e enfermeiros15.

Evidencia-se com nosso estudo a necessidade de melhores condições de trabalho e mais apoio dos governantes e da comunidade aos ACS e ACEs. A realização de treinamentos para contínua atualização pode aumentar o entendimento da doença e elevar a autoestima e confiança dos trabalhadores.

 

CONCLUSÃO

Em nosso estudo, os ACS formam uma categoria profissional composta majoritariamente por mulheres e adultos jovens, com boa escolaridade e baixa renda. A pesquisa demonstra que o atual treinamento para o combate à dengue não é efetivo, pois, em geral, os agentes se sentem inseguros para transmitir informações à população. Além disso, os profissionais estão sujeitos à aquisição de doenças e parte deles já foi agredida no desempenho da função. Os agentes também apresentaram QV inadequada, o que é justificado principalmente pela condição de trabalho associada a baixa remuneração.

 

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Recebido em 21 de Março de 2018.
Aceito em 16 de Outubro de 2018.

Fonte de financiamento: nenhuma


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